A associação ambientalista Quercus condenou hoje a aprovação da construção da barragem de Veiguinhas, "no coração" do Parque Natural de Montesinho, em Bragança e perguntou o que mudou para o projeto sucessivamente chumbado ter agora parecer favorável.

"O que mudou, pelos vistos, foi a crescente perda de importância da Conservação da Natureza e Biodiversidade, com o próprio Estado a fazer tábua rasa do imperativo constitucional de defesa do Ambiente e a demitir-se da sua obrigação legal de decidir utilizando critérios técnicos objetivos", lê-se num documento assinado pela direção nacional e divulgado hoje pelo núcleo regional de Vila Real e Viseu.

A associação recorda que o projeto já teve vários pareceres negativos e considera "inadmissível a afetação deste território de espécies emblemáticas como o lobo, o veado, a lontra e a toupeira-de-água, tanto mais que existem várias alternativas ao projeto fora e dentro do Parque Natural de Montesinho".

Entre as alternativas que evoca, a Quercus aponta o abastecimento de água à população de Bragança a partir da barragem do Azibo, em Macedo de Cavaleiros, que já tinha sido aprovado em 2005, e que voltou a ser estudado, junto com outras alternativas, com a comissão de avaliação a considerar Veiguinhas a "menos desfavorável entre todas".

O secretário de Estado do Ambiente assinou a Declaração de Impacte Ambiental (DIA), emitida a 19 de março, com parecer "favorável condicionado" à barragem prevista há mais de 30 anos para completar o sistema de abastecimento de água a Bragança.

O Governo fundamenta a aprovação com o facto de a região de Bragança se assumir atualmente como "um caso paradigmático de extrema carência no que concerne ao abastecimento de água".

Para a Quercus, "o Parque Natural de Montesinho é o elemento mais importante para o desenvolvimento turístico da região de Bragança e a sua afetação poderá ter implicações para a economia da região ainda não quantificadas".

Os ambientalistas denunciam ainda a "falta de qualquer estudo para poupança e racionalização do consumo de água em Bragança que poderia resolver os problemas de abastecimento de água, em vez das soluções baseadas no aumento do consumo de água e na expansão do betão dentro das áreas protegidas".

Consideram que a construção desta barragem viola "legislação nacional e comunitária como as leis de proteção ao lobo-ibérico e de habitats".

A QUERCUS apela a todos os cidadãos e, em particular, aos cidadãos da região de Bragança para que se oponham ao que classifica de "grave destruição do património natural transmontano" e relembra que "o modelo de desenvolvimento praticado até à data manteve a região de Bragança como uma das menos desenvolvidas de Portugal e da Europa".

Fonte: Lusa

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